quinta-feira, 25 de julho de 2013

Quando "somos apenas humanos"

O ser humano acha-se o maior.

Foi à lua, descobriu cura para mil doenças, desenvolveu super computadores, aviões a jacto, resolveu os mistérios do Universo. E acha-se perfeito.

O pior é quando todos os outros humanos esperam também perfeição.

Quando eventualmente alguém erra, é imperdoável. A frase "somos apenas humanos" não faz sentido e não é suficiente.

Foi o que disse o maquinista do comboio que circulava a velocidade acima do permitido. E todos os outros humanos perfeitos insurgiram-se! Com tochas e forcas foram directos ao abate.

É como se as 78 família que ficaram desfeitas possam apenas descansar se mais um for despedaçada. Se mais uma vida que, milagrosamente foi "poupada", for tirada. Porque aquele humano devia ter sido perfeito. E errou. (E nem falo nas causas do erro, que são ainda desconhecidas... É, no entanto, muito estranho que a tecnologia de hoje permita que o "erro humano" não seja minimizado...)

Como todos nós, simples mortais, imperfeitos, erramos. Todos os dias.

Quem pode dizer que nunca circulou a mais velocidade do que a permitida? Tantas vezes com os nossos filhos, sobrinhos, amigos connosco? Quantas vezes pensámos "que sorte não ter batido"!? Então não somos também monstros sem coração? Um pai que, por cometer um pequeno erro mata o seu próprio filho, não tem que viver com isso na sua consciência para sempre? Haverá pior castigo do que este?

Bem sei que este homem não era pai de nenhum dos "filhos" que seguiam no comboio. E tenho a certeza que eu própria não conseguiria ser tão racional se pertencesse a uma das 78 famílias. Mas gostava de pensar que não ia querer "olho por olho, dente por dente". Ou simplesmente alguém a quem apontar o dedo.

Quero pensar que poderia ter compaixão também daquele homem e daquela família, que a par das outras 78, ficou destruída hoje.

E nem era preciso que o mundo inteiro a destruísse.

ADENDA: Parece que o tal "senhor" que eu defendi de forma tão acérrima andava a gabar-se das suas conquistas ao estilo Fast and Furious.

Não sei o que mais me choca... Se (re)descobrir que o ser humano está para lá de salvação ou saber que este homem, que trabalhava há mais de 30 anos nesta profissão, "se sucidou" matando com ele 80 pessoas...

Só sei uma coisa. Às vezes, "somos só humanos" não é MESMO suficiente... E se pode ser uma escusa para acidentes, não é nem pode ser, desculpa para actos DELIBERADOS de irresponsabilidade!

Por isso, não, não apagarei o que escrevi. Como "reminder" de que há uma linha muito ténue entre o "somos apenas humanos" e o "insolência humana".

1 comentário:

Soninha disse...

Todos somos humanos, todos erramos... aquele maquinista cometeu o pior erro da vida dele, porque se perderam vidas, se ele tivesse conseguido fazer a curva era um herói, pois conseguia fazer as curvas a cento e cem... o homem está a ser condenado por todos, porque é ele o responsável pela condução daquele veículo, é ele o responsável pelas 200 e tal pessoas que lá vinham.

A vida dele e da família dele também terminou hoje e não vai ser nada fácil, viver com 80 mortes nas costas... Eu condeno-o pela falta de responsabilidade, mas ao mesmo tempo sinto pena dele.