quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Primeiro post de 2013

O que escrevo espelha aquilo que me vai na alma.
Mas às vezes a minha alma fica tão transparente que não há nada que possa espelhar.

Não, não é quando estou triste. Aí a minha alma fica negra, bordeaux, castanha, azul escura, roxa... E consigo espelhá-la. Muito bem até. 

Nem é quando estou entusiasmada. Aí fico rosa, verde mint, laranja, violeta, azul céu e todas as cores do arco íris. Ao mesmo tempo. Também consigo espelhar isso.

Mas é quando estou naturalmente feliz, em paz, sem altos e baixo, que a minha alma se torna branca, pálida, transparente. E não tenho o que espelhar.

Estes dias (tantos) têm sido assim: naturalmente felizes. De viagens, risadas ao Sol, almoços entre amigos, descidas enfiados num saco do lixo azul pela neve, despedidas de amigos que "vão só ali ao lado", sorrisos traquinas de bebés de 15 meses, planos para o futuro próximo e longínquo... Tudo isto sem grandes ups ou downs.

Até hoje. Ou melhor, ontem.

Ontem a minha alma ficou escura, muito escura... E todos os tons de cinzento, roxo, castanho, azul escuro puderam ser espelhados nas minhas lágrimas, na minha apatia, na minha vontade de estar sozinha, adormecer e esquecer aquelas horas.

O que aconteceu? Nada. A M. fez as mesmas birras, em frente às mesmas pessoas com ar de "coitadinha da mãe, aquela miúda é o demo" e/ou "a culpa é dos pais que não são demasiado firmes e a deixam à vontadinha", viu os mesmos desenhos da Galinha Pintadinha para comer sem grandes filmes gregos, chorou as mesmas lágrimas de todos os dias quando a deitamos, pediu o mesmo leitinho que bebe invariavelmente à noite, dormiu a mesma noite inteirinha...

O que aconteceu foi em mim. Fui eu que estava farta, farta, por um momento. Fui eu que não tive paciência para o choro de birra/sono e esqueci as "tretas" todas de parentalidades positivas e afins e lhe dei umas boas três palmadas à séria, fui eu que tive vontade de desaparecer do mapa e imigrar para uma ilha tropical onde fosse a única habitante, fui eu que me arrependi de ter tido filhos pensando "és LOUCA por equacionar outro", fui eu que senti a angústia de uma verdade que é só e tão minha: não ser uma boa mãe. Não ser a mãe que gostaria de ser. Não saber o que fazer... Não ser equilibrada e positiva. E arrastá-los comigo...

Passou. Hoje estou de novo mais transparente. Mais lúcida, pelo menos. Mas não, não vou dizer que hoje estou satisfeita por ter tido a M. Hoje não. Hoje vou-me arrepender e pensar que a vida seria tão fácil a dois apenas...


Ou pelo menos até chegar até ela, ver o seu sorriso traquina e ouvi-la a chamar "mamã"...

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