quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O pior de se ser mãe.

Não são as dores nas costas durante a gravidez, ou não se ter posição para dormir. Nem são as noites mal dormidas, ou as horas a ouvir o choro dum mini-ser que nos desespera. Também não são as birras, trocar aquelas fraldas/material radioactivo, os marcadores pelas paredes ou chão, as nódoas de fruta nos sofás. Nem tão pouco são os telemóveis atirados para dentro de sanitas, ou os sapatos novos todos raspados ao final do primeiro dia.

O pior de ser mãe é o medo. O medo que nos congela quando um pensamento pior nos assola.

É o medo de perdermos tudo, num instante.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

As razões que levam alguém a ser mãe.

Eu já fui mãe.

Eu nunca pensei muito nisto de "ser mãe". Era um daqueles sentimentos que iria descobrir mais tarde, por volta dos 30. E ainda ia muito a tempo. Mas a Mariana trocou-me as voltas e não decidi eu a hora, decidiu ela que já era altura. Ok. Pode ter sido inesperado e até desesperante, mas bem vistas as coisas foi no momento certo.

Agora penso que talvez esteja na hora de ser mãe de novo.

Depois da Mariana nascer, pensei que ia ficar-me por ali. Que um amor tão grande era impossível de ser dividido. Ela preenchia-me (e preenche-me) de forma tão completa que não preciso de outro amor assim.  Nem acho que tenho espaço em mim para outro amor assim.

Bem vistas as coisas, nem tenho grandes amizades e laços de irmãos como exemplo na minha vida. Nem sempre um irmão é o sinónimo de um amigo de sempre e para sempre. Não é, definitivamente, esse o caso com o R. E, a diferença de personalidades tão abismal entre mim e a minha irmã também nunca permitiu que essa cumplicidade nascesse. Eu sou mais uma segunda mãe dela. Protectora, galinha mesmo, exigente, um modelo que ela acha que deve seguir.

Mas ela não é a primeira pessoa a quem recorro quando preciso. Nem a segunda, infelizmente. Bem, é assim a vida. As pessoas são diferentes, tão diferentes. Mesmo quando foram criadas pelo mesmo pai, pela mesma mãe, na mesma casa.

Mas isto de ter outro filho anda impregnado em mim. Na minha cabeça, no meu coração, no contorcer-se das minhas entranhas e no abafado do meu peito.

Será que ter um filho para dar um irmão/irmã à Mariana, é a razão que devia motivar alguém a ser mãe? Um filho como um brinquedo? Uma distracção? Um amigo?

Será que o segundo filho é isso mesmo...? Um presente para o primeiro? Será isso uma premissa válida? Não me parece nada...

Mas sendo assim, qual é a necessidade do segundo filho? Sim, assim crua e fria - necessidade. O amor que nos enche no peito não é já mais do que podemos conter? Não estamos completos? Não somos felizes, inteiramente felizes?

Não duvido que o resultado de se ser mãe pela segunda vez seja outro amor imensurável. Mas não será sempre um segundo...?

Não será até imoral ser-se mãe de novo sob estes pretextos generalizados da necessidade de um filho ter um irmão?

Por outro lado, se não tivessemos já o primeiro, não quereriamos o segundo que na verdade seria o primeiro!?

Não consigo deixar de sentir que isto tudo é uma grande injustiça. Injustiça para o primeiro, a cobaia, o sujeito de testes, aquele que "vamos ver se isto funciona" e injustiça para o segundo, o que fica com as Barbies já de cabelo rapado, com as roupas guardadas, com a vida em segunda mão.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Medos de quem vive no meio de alvos a abater.

Estão sempre a haver manifestações por aqui.

Ora são contra a "invasão" chinesa no Vietname de que ninguém fala, ora contra os pró-russos da Criméia tão badalados, ou até contra a ameaça muçulmana aos cristãos no Médio Oriente.

E depois ainda há as manifestações do próprio país, dos sindicatos, dos partidos menores, dos trabalhadores, dos desempregados.

Esta zona está em constante algazarra. Mas eu nunca me vou conseguir habituar aos barulhos. Aos gritos, aos cantos das multidões, aos megafones a vociferar palavras estranahas e às bombas. Bem sei que são só isso mesmo, barulho.

Mas não consigo "sacudir o sentimento" de que qualquer dia é a sério. E aí, estou feita ao bife.